Emoção e cognição em crianças vítimas de maus-tratos - um estudo neuropsicológico

Autores

  • Sónia Marisa Martins Saldanha Universidade de Aveiro
  • Luis Alberto Coelho Rebelo Maia Universidade da Beira Interior

Resumo

Os maus-tratos infantis são uma dura realidade, que podem causar sequelas físicas, cognitivas, afetivas e sociais. O presente estudo teve como objetivo comparar o processamento emocional, desempenho cognitivo e indicadores depressivos em crianças institucionalizadas e crianças inseridas em ambiente familiar. A amostra é constituída por 23 crianças institucionalizadas e 23 crianças em ambiente familiar (10 raparigas e 13 rapazes em cada grupo),com idades entre 6 e 11 anos. Os resultados obtidos sugerem que crianças institucionalizadas apresentam médias de desempenho cognitivo inferiores e índices de depressão superiores, comparativamente com crianças inseridas em ambiente familiar. Quanto ao processamento emocional, os resultados obtidos são um pouco diferentes nas três provas de processamento emocional, contudo sugerem que expressões de tristeza e surpresa apresentam médias de reconhecimento inferiores no grupo de crianças institucionalizadas. Uma prova de busca visual com estímulos emocionais esquemáticos apresenta uma percentagem de acertos inferiores para expressões faciais de alegria, particularmente para as crianças institucionalizadas. Não se encontraram diferenças significativas no tempo de reação entre expressões faciais neutras e expressões emocionais. De um modo geral, os resultados do presente estudo sugerem dificuldades ao nível do reconhecimento e processamento de expressões emocionais, particularmente ao nível da tristeza, alegria e surpresa, juntamente com dificuldades cognitivas e níveis de depressão mais elevados em crianças vítimas de maus-tratos. Consideramos como particularmente interessantes os resultados observados para a tristeza e alegria, uma vez que são emoções especialmente relevantes em termos da experiência pessoal destas crianças. A tristeza revelou níveis mais baixos de reconhecimento, enquanto para a alegria os resultados indicam um défice ao nível da sua deteção entre faces neutras. Este estudo veio alertar para dificuldades de processamento relativamente a expressões faciais diferentes das que foram normalmente encontradas em estudos anteriores. Considera-se assim pertinente que futuros estudos explorem estes dados de maneira mais aprofundada, e que investiguem prováveis dificuldades nas crianças em detetarem expressões emocionais ambíguas e possíveis enviesamentos atencionais no sentido de uma mais fácil ou mais difícil deteção de determinadas emoções. 

Biografia do Autor

Sónia Marisa Martins Saldanha , Universidade de Aveiro

Licenciada em Psicologia pelo ISEIT de Viseu; Mestre em Psicologia Forense pela Universidade de Aveiro - smmsaldanha@hotmail.com.

Luis Alberto Coelho Rebelo Maia, Universidade da Beira Interior

Neuropsicólogo Clínico e Forense, PhD Professor Auxiliar da Universidade da Beira Interior, Pós Graduado em Ciências Médico-Legais (ICBAS), Licenciado em Psicologia Clínica (Universidade do Minho), Mestre em Neurociências (Faculdade de Medicina de Lisboa), Grau de Salamanca em Neuropsicologia Clínica (Universidade de Salamanca), Grau de Suficiência Investigadora (Universidade de Salamanca), Estudante de Direito (U. Lusófona Porto).

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Publicado

21.03.2023